quarta-feira, 8 de abril de 2009

MANIFESTO

CUIDAR, SIM. EXCLUIR, NÃO.

A posição da Prefeitura de São Bernardo do Campo sobre a “clínica” para tratamento de usuários de álcool e drogas inaugurada pelo Governo de São Paulo em nosso município.
Em 31/03/09 fomos surpreendidos com a inauguração de uma clínica para internação de pessoas que usam drogas em São Bernardo, numa parceria entre o grupo que controla um hospital psiquiátrico (Hospital Lacan) e o governo de SP. Os recursos que custeiam tal empreendimento são provenientes do tesouro do estado (R$ 3.000,00 por paciente/mês) e serão repassados sob a forma de convênio, sem que o município, gestor do SUS, tenha qualquer tipo de regulação sobre o acesso ou o controle do serviço.

Não podemos concordar com a forma como esse projeto foi implantado, sem nenhuma participação do município, em desrespeito ao Pacto pela Saúde e ao largo das normas e portarias que tem definido as diretrizes de gestão, atendimento e financiamento do SUS. O projeto sequer foi discutido com a Secretaria Municipal de Saúde, embora tenha sido divulgado que os CAPS locais usariam articuladamente esse serviço. Os recursos que serão utilizados são públicos e, assim, pertencem ao SUS, exigindo que as instâncias que fazem parte deste último participem efetivamente do processo, pactuando e construindo a lógica de funcionamento do sistema.

Alem disso, discordamos profundamente do modelo que rege o projeto, e que fomenta a internação psiquiátrica como o tratamento em si, sem problematizar a experiência existencial dos sujeitos que irá atender. Entendemos também que a criação destes leitos fere a Lei Federal 10.216/01, que proíbe a instalação de novos leitos psiquiátricos no país.

Repudiamos qualquer tentativa maniqueísta e moralista de tratar a questão do uso de drogas, um fenômeno complexo, multifatorial, que exige um diálogo, portanto, também complexo. O que está em questão não é só a saúde, mas a liberdade, o protagonismo, os projetos de vida, os direitos de cada pessoa, seja ela usuária de drogas, louca, ou o quer que seja.

Manifestamos nossa adesão aos avanços da reforma psiquiátrica no campo das drogas, ao importante papel dos CAPS nos territórios e nos percursos de seus usuários, na construção cotidiana de projetos de vida e na ampliação de possibilidades de existência. Entendemos que as situações de desintoxicação e os riscos trazidos pela abstinência devam ter o hospital geral como lugar de suporte. Repudiamos a institucionalização e o puro controle das transgressões exercido pelo hospital psiquiátrico, as “clínicas” especializadas em internar e alienar as pessoas que usam e abusam de drogas.

Queremos que os usuários dos serviços de saúde mental sejam os protagonistas de seus percursos de vida, de suas escolhas, de seus desvios, que possam viver suas contingências. Nenhum sentido novo à existência é construído quando submetemos à força aqueles que desviam, e que, com suas transgressões, questionam valores que nos são caros. É comum querermos afastar tudo aquilo que nos faz lembrar de nossa própria condição trágica de humanidade.

A clínica especializada do governo de SP não vai tirar à força, como num parto a fórceps, a necessidade das pessoas que dependem das drogas. Não vai, como num passe de mágica, transformar a condição cotidiana de vida das pessoas a partir de dentro do hospital.

Apoiamos a política de redução de danos, a desinstitucionalização, a prática territorial e a produção de saúde, e continuaremos a enfrentar os revezes que se nos apresentam, construindo políticas afirmadoras da vida em São Bernardo do Campo.

Implantaremos, com entusiasmo e compromisso, a reforma psiquiátrica em nosso município.

A luta está apenas começando!

Arthur Chioro
Secretário de Saúde

Fernando Kinker
Coordenador do Programa de Saúde Mental

4 comentários:

Unknown disse...

Pior que usar drogas é ter um discurso moral que funciona como uma falsa vitrine: Eu sou evangélico, eu sou católico, eu sou religioso. Muito discurso e muita hipocrisia. As clinicas psiquiátricas realmente são trágicas em abalar a auto-estima das pessoas, que se sentem péssimas por não conseguirem se enquadrar. Vão se fragilizando cada vez mais até aceitarem se isolar para sempre. Quem se "cura" é apenas uma aparência, pois o temor da instituição, desenvolve pessoas histéricas, verdadeiros sepulcros caiadados, que transparecem ser o que não são, para não sofrer a punição da instituição, do eletrochoque e da supertmedicação. E viva a maconha!

Unknown disse...

Prefiro ser um MACONHEIRO assumido do que vomitar discursos em nome de Jesus e praticar pedofilia e abusos sexuais. Prefiro andar de chinelo de borracha do que usar um terno que me iguala às massas de pessoas sem identidade própria. Prefiro ser LOUCO tentando me aceitar e procurando ser e fazer feliz do que ser um normal com medo que a vida tire meu status e eu não possa ser eu mesmo sem máscaras.

Unknown disse...

Viva a Maconha e a filosofia do pensamento verde! Como dizia o poeta: "(...) essa tribo é atrasada demais, a paz é contra a lei e a lei é contra a paz (...)"

Unknown disse...

"(...) Apaga a fumaça do revólver da pistola, manda a fumaça do cachimbo prá cachola. Acende, puxa, prende e passa, índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça (...)"

"(...)Essa tribo é atrazada demais, eles querem acabar com a violência, mas a paz é contra a Lei e a lei é contra a paz (...)"

Grabriel o Pensador - Cachimbo da Paz